Disco Novo de Celso Fonseca e a Morte de Márcio Montarroyos


Julinho Bittencourt


Se existe algum artista hoje na nossa música que seja de fato moderno, é Celso Fonseca. No seu recém lançado “Feriado”, a primeira sensação de saída é que está tocando o disco errado. Um “sampler” da introdução de “Barato Total”, que abre o disco “Cantar”, de 1974, um dos melhores da carreira de Gal Costa, aparece quase na íntegra no início da canção “Não se Afasta de Mim”. Alguns “scratchs” depois e a voz de Celso se revela, nítida, como um dia de sol no Rio de Janeiro. Daí pra frente, a sensação de feriado inunda o ouvinte com sons relaxados, prezeirosos, dançantes e sem pressa alguma.


Como diz o próprio cantor, desta vez fez um disco para tocar em pé. Não que tenha abandonado seu estilo único pós-bossa nova, mas agora tudo suinga de forma mais poderosa, alegre e festiva. Fonseca vai do Jobim, de “Águas de Março” a MC Leozinho, de “Se Ela Dança eu Danço”, com a maior sem cerimônia do mundo. Tudo se encaixa num signo musical único, amarrado em torno da canção popular e sua capacidade de enfeitar a vida e divertir.




Márcio Montarroyos – Por coincidência, Celso Fonseca tocou, no início da carreira, com o trompetista Márcio Montarroyos. Márcio se foi, na última quarta, 12/11, aos 58 anos, vítima de câncer generalizado. Um dos melhores instrumentistas do Brasil, tocou com inúmeros artistas, entre eles Stevie Wonder, Sarah Vaughan, Nancy Wilson, Carlos Santana e Ella Fitzgerald, além de brasileiros como Sérgio Mendes, Edu Lobo, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Tom Jobim, entre outros.



Gravou vários discos, como Sessão Nostalgia (1973), Stone Alliance (1977), Trompete Internacional (1981), Magic Moment (1982), Carioca (1984) e Samba Solstice (1987). Deixou ainda o inédito “Sol e Mar”, que deve ser lançado no ano que vem.


Márcio foi homenageado no último dia 19/11, com um show na inauguração do Mistura Fina, no Arpoador, no Rio de Janeiro. Estiveram por lá Ricardo Silveira e Léo Gandelman, que ao lado do empresário Pedro Paulo Machado organizaram o evento. Além deles, tocaram e ainda pagaram ingressos Ney Matogrosso, Leila Pinheiro, Fafá de Belém, Celso Fonseca, Edu Lobo, Marcos Valle, João Donato, Arthur Maia e o próprio Márcio, que tocou e se despediu dos amigos.


Entre os vários momentos inesquecíveis da carreira do trompetista, gostaria de relembrar o solo de flugelhorn que fez na canção “Vento Bravo”, de Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, no disco “Tom & Edu – Edu & Tom”, de Edu Lobo e Tom Jobim, gravado em 1981. Nele está tudo o que se pode esperar de um grande músico. A bela canção enriqueceu sobremaneira com as notas rápidas e dobradas, executadas com muita riqueza rítmica e melódica. Assim como este, o instrumentista encheu a nossa música de momentos inestimáveis. Uma grande perda.

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