Clara Mousinho
A música brega é uma unanimidade, há quem goste ou há quem odeie. O forró brega, considerado um gênero genuinamente brasileiro, tem tomado ares americanos. A nova moda é utilizar famosas músicas americanas e transformá-las em brasileiras com letras completamente diferentes. O hit "Não vale mais chorar por ele", que estourou na voz de Ivete Sangalo no Festival de Verão, não é nada mais que o ritmo da música "Don't matter", de Akon.
Ao ler a tradução da letra original, dá para perceber que o conteúdo da música é completamente diferente da conferida da apresentação da Ivete.
A banda que comanda a música brega no Brasil, Aviões do Forró, utilizou a música mais tocada no mundo em 2007, "Umbrella"da Rihanna, e fez uma "versão" brasileira.
Já outro grupo brega famoso, Calcinha Preta, utilizou um clássico americano: "Without you". A banda criou até uma musa inspiradora para música "Paulinha".
Apesar de não ser fã desse tipo de música, sempre pensei que o brega fosse algo tão brasileiro que não sofreria influência dos "yankees", mas estava enganada.
Forró made in USA
31 de março de 2008 | às 16:31 0 suas idéias
Nara Leão - Samba de uma nota só e Samba do avião
Breno Barros
30 de março de 2008 | às 17:40 0 suas idéias
Os Sons do Sul com Batuques Cariocas
A cidade imaginária Satolep Sambatown é o cruzamento de Pelotas (ao contrário), do cantor e compositor Vitor Ramil e, em tradução livre, o Rio de Janeiro, do percussionista Marcos Suzano. Mais do que isso, é o nome do disco que a dupla acaba de lançar, em show que percorre o país. Mais ainda, é uma tentativa de juntar no mesmo balaio a estética do frio, a canção de quem vive ensimesmado por conta das baixas temperaturas que vem lá do sul, com o batuque acalorado da cidade maravilhosa.
Eles quase conseguem, mas isso não é nenhum demérito. O que de fato acontece é o amplo predomínio, como exceção à regra, ao som de Satolep. Por mais e melhor que o excelente percussionista Suzano bautuque, o que ouvimos do começo ao fim deste lindo disco é a canção de Ramil, com suas filigranas melódicas e literárias, enfim, com toda a riqueza de construção a que habituou o seu público.
O papel de Suzano é imprescindível mas quase secundário. Ao contrário do que ocorre no já lendário “Olho de Peixe”, dele em parceria com o compositor pernambucano Lenine, onde o percussionista é peça chave, neste “Satolep Sambatown” quem rouba o show são as canções e não as suas formas.
Algumas das peças apresentadas no disco já haviam sido gravadas. É o caso de “A Ilusão da Casa”, com um belo refrão onde Ramil sofisma irremediavelmente: “Eu sei, o tempo é o meu lugar, o tempo é minha casa, casa é onde quero estar, eu sei”. Outra das canções reinterpretadas é “Café da Manhã”, que capta de forma rara a tensão do casal percebida a partir do interlocutor: “Ela esquece o gosto do café, põe os olhos no jornal, ela pega a parte que eu já li e abre como um muro entre nós”.
Além destas, o disco conta com muitas outras inéditas de encher os ouvidos. A despeito das letras, a música de Vitor Ramil é rica em harmonias e melodias. Tudo o que propõe é sofisticado e ousado, até mesmo quando tenta ser mais simples e pop. Este é o caso, por exemplo, de “O Copo e a Casa”, um quase rap, onde a participação de Suzano é fulminante.
Para muito além de ser um grande percussionista e, particularmente, um dos maiores pandeiristas destas e de outras plagas, Marcos Suzano funciona hoje com um homem-banda. Toca vários instrumentos, programa ritmos eletrônicos, arpejadores e efeitos. Sob os violões de nylon e aço de Ramil, muitas vezes com afinações alteradas, os sons de Suzano determinam as direções de “Satolep Sambatown”.
E as direções, como disse acima, ficam lá pelas origens. Suzano, como um embaixador, muito mais do que tentar cariocar o som de Ramil, tem o mérito de levar para todo o pais, a seu modo universal, o que é, desde sempre, tido e tratado como jóia rara por chimangos e maragatos.
28 de março de 2008 | às 15:48 0 suas idéias
Cat Stevens de volta, como Yusuf Islam
Nara Leão na Voz de Fernanda Takai
Cresci cercado de gente que ouvia músicas que marcaram a vida de gerações. Uma delas foi uma professora que, além de várias outras, me despertou a paixão pela voz e a música de Nara Leão. Nara da bossa nova, do choro, do Arena Conta Zumbi, Nara tropicalista, Nara do Chico Buarque e, enfim, todas as Naras que habitaram o nosso imaginário. E quem aprende a ouvi-la nunca mais é o mesmo. Imagino que quem teve alguém que o ensinou a ouvir Nara Leão aprendeu a ouvir o Brasil.
E é exatamente isso, para surpresa de muitos, que Fernanda Takai nos mostra no seu primeiro disco solo “Onde Brilham os Olhos Seus”. Com uma delicadeza indizível e a mesma criatividade dos seus discos com o Pato Fu, Fernanda nos dá o melhor dos presentes de final de ano. Entrega de bandeja as múltiplas possibilidades que Nara Leão, na década de 50 em diante, nos abriu. Empresta um novo olhar, jovem e renovado, a um dos maiores símbolos de juventude do Brasil. Em outras palavras, sem grandes invenções, a cantora renova o que sempre foi novo.
Este projeto de Fernanda Takai tem três parceiros que não podem ser esquecidos. Antes de qualquer coisa seu pai, que com suas fitas cassete, transbordou de bom gosto a vida da moça. Depois, a idéia inicial que foi sugerida pelo crítico, compositor e escritor Nelson Motta. Nelsinho enxergou na cantora a Nara Leão do pop-rock e fez a direção artística do disco. No final das contas, tem também o grande mérito de seu parceiro e marido John Ulhoa, produtor musical do projeto. O formato que o músico construiu, tanto nos arranjos quanto nos timbres, é motivo para o seu nome na capa.
O repertório foi construído em cima de 40 canções que Nelson Motta imaginou que ou seriam representativas ou ficariam bem na voz da cantora. Do seu lado, Fernanda ouviu várias outras. O resultado foi o registro de 13 músicas, que atendem os vários requisitos das múltiplas fases de Nara. Entre elas: Diz Que Fui por Aí (Zé Ketti/Hortênsio Rocha), Insensatez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes), Trevo de Quatro Folhas (Dixon/H.Woods/Nilo Sérgio), Luz Negra (Nelson Cavaquinho/Amâncio Cardoso), Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos (Roberto e Erasmo Carlos), Descansa Coração (My Foolish Heart) (V.Young/N.Washington/Nelson Motta) e Ta-hi (Joubert de Carvalho).
Os arranjos e interpretações dão a conta. Absolutamente distantes do universo original, são repletos de inovações, andamentos alterados, timbres eletrônicos e vários outros detalhes. A voz de Fernanda é suave, delicada e muito próxima da de Nara. O resultado final é surpreendente e bonito. Nara teria adorado, assim como imagino que a minha professora, ainda antenada a tudo, e todas as pessoas de espírito aberto também devam gostar.
Para quem gosta de Bossa Nova
Clara Mousinho
O programa Roda Viva da próxima segunda-feira (31/03) será dedicado aos amantes da Bossa Nova, com o tema “50 anos de Bossa Nova”. O compositor Carlos Lyra, autor de mais de 200 músicas do gênero, é o convidado do dia.
Lyra será entrevistado por Regina Echeverria, jornalista e autora do livro Furacão Elis; Sérgio Cabral, jornalista e escritor, autor das biografias de Tom Jobim e Nara Leão; Ruy Castro, jornalista, escritor e colunista do jornal Folha de S. Paulo e autor dos livros sobre a Bossa Nova, "Chega de Saudades" e "A Onda que se Ergueu do Mar"; Zuza Homem de Mello, jornalista e produtor musical; Patricia Palumbo, jornalista, apresentadora do programa Vozes do Brasil da Rádio Eldorado e apresentadora do programa Conversa Afinada na TVE do Rio de Janeiro; Tarik de Souza, jornalista, escritor e colunista musical do Jornal Do Brasil.
O programa começa ao vivo às 22h40 na Tv Cultura. Você pode também mandar perguntas pelo site do Roda Viva.
Disco Novo de Celso Fonseca e a Morte de Márcio Montarroyos
Julinho Bittencourt
Se existe algum artista hoje na nossa música que seja de fato moderno, é Celso Fonseca. No seu recém lançado “Feriado”, a primeira sensação de saída é que está tocando o disco errado. Um “sampler” da introdução de “Barato Total”, que abre o disco “Cantar”, de 1974, um dos melhores da carreira de Gal Costa, aparece quase na íntegra no início da canção “Não se Afasta de Mim”. Alguns “scratchs” depois e a voz de Celso se revela, nítida, como um dia de sol no Rio de Janeiro. Daí pra frente, a sensação de feriado inunda o ouvinte com sons relaxados, prezeirosos, dançantes e sem pressa alguma.
Como diz o próprio cantor, desta vez fez um disco para tocar em pé. Não que tenha abandonado seu estilo único pós-bossa nova, mas agora tudo suinga de forma mais poderosa, alegre e festiva. Fonseca vai do Jobim, de “Águas de Março” a MC Leozinho, de “Se Ela Dança eu Danço”, com a maior sem cerimônia do mundo. Tudo se encaixa num signo musical único, amarrado em torno da canção popular e sua capacidade de enfeitar a vida e divertir.
Márcio Montarroyos – Por coincidência, Celso Fonseca tocou, no início da carreira, com o trompetista Márcio Montarroyos. Márcio se foi, na última quarta, 12/11, aos 58 anos, vítima de câncer generalizado. Um dos melhores instrumentistas do Brasil, tocou com inúmeros artistas, entre eles Stevie Wonder, Sarah Vaughan, Nancy Wilson, Carlos Santana e Ella Fitzgerald, além de brasileiros como Sérgio Mendes, Edu Lobo, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Tom Jobim, entre outros.
Gravou vários discos, como Sessão Nostalgia (1973), Stone Alliance (1977), Trompete Internacional (1981), Magic Moment (1982), Carioca (1984) e Samba Solstice (1987). Deixou ainda o inédito “Sol e Mar”, que deve ser lançado no ano que vem.
Márcio foi homenageado no último dia 19/11, com um show na inauguração do Mistura Fina, no Arpoador, no Rio de Janeiro. Estiveram por lá Ricardo Silveira e Léo Gandelman, que ao lado do empresário Pedro Paulo Machado organizaram o evento. Além deles, tocaram e ainda pagaram ingressos Ney Matogrosso, Leila Pinheiro, Fafá de Belém, Celso Fonseca, Edu Lobo, Marcos Valle, João Donato, Arthur Maia e o próprio Márcio, que tocou e se despediu dos amigos.
Entre os vários momentos inesquecíveis da carreira do trompetista, gostaria de relembrar o solo de flugelhorn que fez na canção “Vento Bravo”, de Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, no disco “Tom & Edu – Edu & Tom”, de Edu Lobo e Tom Jobim, gravado em 1981. Nele está tudo o que se pode esperar de um grande músico. A bela canção enriqueceu sobremaneira com as notas rápidas e dobradas, executadas com muita riqueza rítmica e melódica. Assim como este, o instrumentista encheu a nossa música de momentos inestimáveis. Uma grande perda.
O Rei da Cultura
O cantor e compositor Péricles Cavalcanti chega ao seu quinto disco, intitulado “O Rei da Cultura”. Todos, incluindo este, são excelentes e repletos de clássicos para poucos. Isto pode parecer um enigma aos incautos, mas se o leitor tem um ouvido mais atento, certamente sabe das obras do dito cujo autor desde sempre. A partir da década de 70 Péricles já tinha canções suas gravadas por Gal Costa (“Quem Nasceu?” e “O Céu e o Som”), além de Caetano (“Elegia” e “Blues”), que conheceu na Bahia e reencontrou em Londres anos depois, quando todos se sentiam longe daqui.
Sua trajetória até chegar neste “O Rei da Cultura” é repleta de novidades e ousadias, canções simples, bonitas e inteligentes, completamente fora de qualquer estrutura vigente. Este recém lançamento não é diferente. Com 14 composições inéditas e 3 regravações, Péricles conta com participações ilustres e entusiasmadas que vão de Rodrigo Amarante, Edgard Scandurra, Cláudio Faria, Luca Raele, Guilherme Kastrup, até o santista integrante do grupo A Barca Lincoln Antonio, Atílio Marciglia, Christianne Neves, Biroska, Pedro Sá e Domenico Lancelotti entre outros.
Tantos nomes podem sugerir um disco com paredes sonoras, grandes instrumentações e coisas do gênero, mas não. O autor segue na sua balada mínima, onde poucos sons (na grande maioria arranjados e executados por ele mesmo) definem um todo completo e repleto, como sempre, de surpresas, bom humor e muita beleza.
A ironia fina misturada ao lirismo é uma das marcas registradas da música de Péricles. A canção “O Galope do Guitarrista Apaixonado”, que dá a largada ao disco é um belo exemplo. Com um trio pesado, a melodia meio índie, meio cordel escancara a paixão do músico duro pelo instrumento objeto do desejo. O contraste explode logo a seguir em “Sou Sua”, repleta de romantismo e contrapontos inusitados de metais e sanfona. Um luxo de arranjo que lembra, lá de longe, Tom Waits.
“Eva e Eu”, que já havia sido gravado pelo co-autor Arnaldo Antunes, segue no mesmo tom e parece dar as tintas do todo. “Manga”, com apenas dois acordes, uma frase melódica curta e uma linda letra resume a mágica da obra de Péricles. Tudo sempre é dito com pouco, muito pouco, quase nada. Dialoga com Mãe West num delicioso samba brejeiro, onde a musa responde: “Seu olho meu bem não me engana, ta certo eu sou boa quando eu sou boa, mas quando eu sou má… eu sou ótima. Além do mais se as garotas boas casam todas de véu, as levadas da breca tem mil luas de mel”.
Dentre muitas tantas, vale destaque o quase tango do nosso Lincoln Antônio, com letra do autor. Metalinguagem de signos e metais, teclados, sanfona e voz inventam no ar da canção um efeito de cores e desenho animado.
No final das contas, entre mortos e feridos tudo é brincadeira com gosto de verdade ou o contrário. E assim, entre essas e outras, doutor Péricles acaba de nos dar outro disco imperdível e pra lá de divertido.
Uma Senhora que Ainda Canta. E como.
Julinho Bittencourt
As boas coisas da vida só a paixão é capaz de produzir. Um grande
disco, uma grande cantora, belos arranjos e um público ávido são
coisas que só acontecem sob o signo de muito afeto. E isto, muitas
vezes, pode levar anos e anos. Em alguns casos quase um século de
dedicação e amor pelo que se faz.
Este preâmbulo meio pomposo e exagerado tem o objetivo único de
apresentar o disco "Zezé Gonzaga Entre Cordas", recém lançado pelo
selo Biscoito Fino. Dizer, assim como de vários outros, que o disco é
bom, excelente etc é pouco. Não define nem de longe a real dimensão da
obra, o tamanho talento nela contido e o árduo e insistente trabalho
de todos os envolvidos para que se chegasse aonde chegou.
Zezé Gonzaga é uma das lendárias cantoras do rádio, uma das nossas
vozes de ouro que, do final da década de 40 até o final dos anos 70,
deslumbrou público e colegas de profissão com a sua afinação absoluta
e interpretações irretocáveis. Depois de uma pausa de 23 anos, lançou,
em 2002, o disco "Sou Apenas uma Senhora que Ainda Canta". Sua voz
estava intacta. Como num passe de mágica, seu timbre cristalino de
soprano havia feito troça do tempo.
O produtor, diretor artístico da empreitada e apaixonado confesso pela
obra e voz da cantora, Hemínio Bello de Carvalho não se deu por
contente. Apesar do resultado impecável, ele queria mais. Queria um
disco para comemorar os 80 anos da cantora. Bateu na resistência da
própria. Para ela havia dado. Não queria mais saber de gravar.
Hermínio foi então garimpar nos arquivos da TVE do Rio de Janeiro e
recuperou gravações que iam de 1976 até 1994. Juntou a isto outras
feitas em 2002, com o Quarteto Maogani.
Diante de tanto e tão bom material só encontrou um jeito: conceituar
tudo. E ai surgiu "Zezé Entre Cordas", ou seja, Zezé acompanhada por
violões de seis, sete, tenor, bandolins e também as cordas percussivas
do piano do maestro Radamés Gnattali. Estão no disco também, além dos
já citados, Baden Powell, Cristina Braga, Hamilton de Holanda, Hugo
Pilger, João Lyra, Luiz Otávio Braga, Marcus Tardelli, Maurício
Carrilho, Paulo Aragão e Rafael Rabello, que aparece ao seu lado em
faixa multimídia interpretando a canção "Duas Contas", de Garoto.
O disco está ai, graças à coragem e paixão de Hermínio Bello de
Carvalho, da Biscoito Fino e de todos os envolvidos. Não se trata de
indulgência com a idade da cantora ou com a sua história. A comoção
que causa cada uma das faixas de "Entre Cordas" deriva mesmo é do
talento ainda vivo e nítido da cantora, do brilho e da capacidade de
contar cada palavra das canções como se fossem únicas, como se fossem
suas. Não adianta gastar parágrafos. Zezé Gonzaga é um caso raro. Uma
das maiores cantoras do mundo de todos os tempos.
Tocador de Bolachão
Por Breno Barros
O bolachão tem 57 anos e a maioria dos jovens não se lembram o que é. Ele também é conhecido como disco de vinil ou LP, Long Play. Para a turma da velha guarda, que ainda guarda a coleção das suas bandas preferidas, os japoneses da Vestax, lançam o turntable Vestax Guber CM-02.
O toca discos possui um design moderno que fica bem em qualquer sala. O diferencial do aparelho é a porta USB, que permite a conversão dos LPs para o formato digital no seu computador.
Ele possibilita a reprodução dos LPs de 33 1/3, 45 e 78 rpm, além de possuir o traço da agulha em forma de ‘S’, motor “direvt drive” e o pré-amplificador embutido.
O aparelho custa US$ 233 no Japão. Para quem tem coleção de discos, vale a pena ter um em casa.
As Canções do Poeta Geraldo Carneiro
Tetê Espíndola ao Vivo em Campo Grande
prefere a inscrição da capa "E Vá Por Ar". Gravado em 2004, na sua
cidade natal, Campo Grande, o disco só foi finalizado agora. Conta com
onze canções inéditas e uma regravação para "Sertão", dela e Arrigo
Barnabé, lançada originalmente no disco "Pássaros na Garganta", de
1982.
Tetê é uma cantora chave para se entender o tempo e suas
transformações. Surgiu para o público brasileiro, a partir do pantanal
mato-grossense, no início da década de 80. Fez parte, ao lado de
Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Grupo Rumo entre outros da chamada
vanguarda paulistana.
De todos ali, foi a que chegou mais longe, vencendo inclusive um dos
Festivais dos Festivais, da Rede Globo, de 1985, com a canção "Escrito
nas Estrelas". Deste momento em diante, a cantora se dedicou a
projetos cada vez mais experimentais e inusitados, o que fez com que
nunca mais conseguisse a mesma popularidade de então.
Passou a gravar com certa irregularidade, em selos menores, o que fez
com que até os mais interessados tivessem dificuldades para descobrir
as suas novidades. "E Vá Por Ar" é também um caso desses, lançado e
distribuído em parceria pelos bravos selos Luz Azul e Tratore,
respectivamente.
A sensação, no entanto, de se ouvir Tetê novamente é o que nos remete
ao tempo. O disco traz mais ou menos o mesmo som que ela sempre fez, o
que é excelente. O fato de ouvir a mesma cantora de vinte anos atrás
continua, por mais incrível que pareça, nos levando a, pelo menos,
vinte anos à frente.
A sua voz, incomum e aguda, carrega com entusiasmo e originalidade o
centro-oeste brasileiro, seus ventos, pássaros e sons misteriosos.
Suas novas canções são lindas, ao mesmo tempo brejeiras e construídas
com sofisticação, elegantes e despojadas. Seu canto e craviola nunca
caminharam tão juntos, em contrapontos e armações melódicas
eficientes, bonitas e vigorosas.
Está mais afeita à sua terra do que nunca. Além de gravado ao vivo em
Campo Grande, o disco também é tocado por músicos conterrâneos. São
eles Antônio Porto, no baixo acústico; Adriano Magoo, nos teclados e
sanfona; Wlajones Carvalho, na percussão; Sandro Moreno, na bateria e
a própria Tetê, na craviola.
Vale destacar em "Evaporar" o improviso "Pássaros" que a cantora faz
com a platéia. É um hábito seu que nunca havia gravado. Num truque
simples de palco, onde orquestra e multiplica a sua voz com as do
público, a cantora produz texturas e sons que, de certa forma,
traduzem toda a sua carreira.
Por menos que grave, a cada disco novo Tetê surpreende sem se mover
muito do seu universo claro e amplo. Uma grande artista do Brasil,
absolutamente em paz com sua consciência e seus sons.